Saúde mental do colaborador: como deve ser o trabalho tático do RH?

por | 10/05/2021 | Employee Experience, RH

O distanciamento social e a brusca mudança de rotina provocados pela pandemia causaram grande impacto na saúde mental do colaborador. Esse tema, aliás, tomou novas proporções nas organizações, principalmente dentro da área de RH, que precisou rapidamente buscar maneiras de cuidar, remotamente, do bem-estar dos funcionários.

Para ter uma ideia do cenário, um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) mostra que os casos de depressão praticamente dobraram no início da quarentena (março e abril de 2020), passando de 4,2% para 8%. Já os casos de ansiedade saltaram de 8,7% para 14,9%.

Para a área de Recursos Humanos, a pesquisa traz pontos consideráveis para estar numa estratégia corporativa de cuidado com a qualidade de vida do colaborador.

“Mulheres são mais propensas do que os homens a sofrer com estresse e ansiedade durante a quarentena. Outros fatores de risco são: alimentação desregrada, doenças preexistentes, ausência de acompanhamento psicológico, sedentarismo e a necessidade de sair de casa para trabalhar”.

Desempenho é diretamente afetado pela falta de cuidado com a saúde mental do colaborador

American Psychological Association (APA) cita como uma das tendências para 2021, na área de psicologia, o aumento do suporte à saúde mental dos trabalhadores por parte das companhias. Ainda de acordo com a APA, 2/3 dos entrevistados relataram que seu desenvolvimento profissional foi afetado durante a pandemia por problemas de saúde mental.

Esse desgaste tem grande impacto nos negócios. Já em 2016, a London School of Economics mostrou que o prejuízo anual no mundo todo causado pela performance reduzida dos profissionais com doenças relacionadas à saúde mental foi de US$ 246 bilhões (aproximadamente R$ 1,3 trilhão).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada US$1 investido em tratamento intensivo para transtornos mentais comuns, há um retorno de US$4 em melhoria da saúde e produtividade.

Sabendo da necessidade do tema, como precisa ser a atuação do RH? A Dialog conversou com Ana Carolina Peuker, psicóloga, CEO da Bee Touch (startup de saúde mental) e criadora da Avax (primeira plataforma de avaliação psicológica do Brasil).

Confira a entrevista!

Dialog: Qual deve ser o posicionamento do RH no enfrentamento de questões relacionadas à saúde mental?

Ana Carolina Peuker: Os aspectos emocionais afetam o bem-estar dos colaboradores e também prejudicam os negócios. Índices exacerbados de problemas mentais repercutem em perdas representadas por índices maiores de afastamentos, absenteísmo, turnover e acidentes de trabalho, por exemplo.

O RH precisa ter uma atuação tática, buscando recursos que ajudem a predizer os problemas, não apenas identificá-los. Monitoramentos digitais são ferramentas ágeis e que mostram, em tempo real, as necessidades dos colaboradores.

A área de gestão de pessoas deve buscar o trabalho mediado por dados. Isso garantirá ações custo-efetivas. As ações de saúde mental corporativa devem estar atreladas às políticas de governança e aos objetivos estratégicos da empresa, como o alinhamento com a ESG (Environmental, social and governance).

Como a comunicação interna pode auxiliar o RH no cuidado com a saúde mental dos colaboradores?

A comunicação interna é decisiva para o sucesso de qualquer iniciativa no âmbito corporativo. A tecnologia ampliou muito os recursos para difusão das mensagens, conteúdos e campanhas que são desenvolvidas.

Sem isso, não há engajamento, os colaboradores não compreendem a razão das ações e a chance de não aderirem se amplia. A comunicação deve ser adequada aos diferentes públicos que se deseja atingir, com linguagem clara e direta, mas sempre com caráter científico, que forneça credibilidade. 

Ana Carolna Peuker

Ana Carolina Peuker é doutora em psicóloga e CEO da Bee Touch

Você vê indicativo de como será esse cuidado por parte das companhias depois da pandemia?

Evoluímos e aprendemos com toda a crise. A agenda da saúde mental deve ser permanente, pois ficou evidente que não há saúde sem saúde mental. As empresas não devem dissociar a saúde, a abordagem deve ser integral. Assim, contribuirão para a redução do estigma, favorecendo a busca precoce de ajuda.

Muitas pessoas adoecem e sentem vergonha de dizer isso, por receio de sofrerem preconceito. Devemos trabalhar com afinco para a popularização do conhecimento psicológico. Muito já se fez em termos de saúde e segurança ocupacional em relação aos riscos visíveis, como os físicos, químicos e biológicos. A pandemia colocou uma lente de aumento no que já existia, só que era um risco invisível, o psicológico.

Como a mensuração de dados pode ajudar a identificar a saúde mental dos colaboradores, principalmente no cenário de home office?

Hoje, detemos tecnologia que permite que o cuidado seja preditivo, coibindo quadros de Burnout e risco de suicídio, por exemplo. É muito importante que as empresas adotem ações preventivas, em um nível primário e secundário. Muitas vezes, agem somente quando o problema já existe. Quando há uma gestão de riscos sistêmica, quadros mais graves podem ser evitados.

A tecnologia também permite obter a visão de cenários futuros, uma tomada de decisão assertiva e o acompanhamento sistemático de indicadores, o que contribui também para o planejamento estratégico. 

Com a análise de dados, é possível hierarquizar as áreas que precisam intervenção e aqueles colaboradores em maior risco de adoecimento mental. Como referi, os riscos psicossociais do trabalho nem sempre são visíveis.

Com o trabalho remoto, a identificação de problemas psicológicos pelos próprios colegas ou líderes ficou ainda mais prejudicada. Por isso, ações de controle por meio de indicadores objetivos e científicos são imprescindíveis. 

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