O “mal da desconfiança” e seu impacto na Comunicação Corporativa

por | 04/06/2024 | InPress Porter Novelli, Parceiros, Profissional de CI

Afirmar que a sociedade contemporânea está imersa em uma crise de confiança não chega a ser novidade para quem se propõe a construir estratégias reputacionais diante dos mais variados públicos.

O que, agora, nos propomos a refletir é sobre como as novas tecnologias (leia-se Inteligência Artificial, Realidade Aumentada, entre outras) estão impactando o modo como as pessoas consomem informação e vivenciam experiências muito mais imersivas.

Para quem foi ao SXSW 2024, em Austin, no Texas, o download que se pede é o pensamento crítico por parte das lideranças em como podem se tornar cada vez mais capazes de construir pontes entre as soluções trazidas pela IA e a chamada Inteligência Comunicacional, orientada a “mexer de fato os ponteiros dos negócios”.

A fala de Margrethe Vestager, vice-presidente da Comissão Europeia em Atenção às Questões da Era Digital, que participou do painel “Tecnologia, Liderança Geopolítica e o Futuro”, mexeu com a plateia. “A base da sociedade é a confiança. É isso que nos mantém unidos. Quando esse fundamento se rompe em definitivo, só resta o caos”.

E quando as novas tecnologias (pilotadas pelo ser humano, diga-se de passagem) não se revelam tão capazes de fazer esse resgate, o cenário se torna ainda mais volúvel, controverso e polarizado.

Aqui, no Grupo In Press, em nosso ebook sobre “Tendências de Comunicação para 2024”, divulgado em meados de janeiro, já afirmávamos que a visão sistêmica entra definitivamente em jogo e as ações, que aconteciam muitas vezes isoladas, agora devem servir como peças para a construção de uma narrativa maior e com propósito.

Ainda sobre propósito, não podemos deixar de lado quatro aspectos comportamentais que têm tornado mais difícil a elaboração de estratégias efetivas de engajamento dos públicos com as marcas e organizações, seja na fidelização de clientes, seja na retenção de talentos profissionais. Elas estão listadas a seguir e exigem olharem cuidados no modo como concebemos experiências às pessoas nos dias de hoje:

1. A fuga do desconforto: as tecnologias oferecem a ilusão de conexão sem a necessidade de enfrentar o incômodo e a vulnerabilidade que a intimidade autêntica exige. Resumindo: tudo que nos causa fadiga a gente tende a abandonar pelo caminho. E isso gera um desafio enorme em se tratando da conquista de novos mercados, ou mesmo, da manutenção dos atuais.

2. As conexões superficiais: interações online costumam ser mais desprovidas de significado emocional profundo, limitando o desenvolvimento da intimidade genuína, um fator preponderante para alavancar trabalho em equipe, inovação e maior valor agregado aquilo que as organizações oferecem. Sobretudo em culturas demasiadamente relacionais como a brasileira. É preciso recriar rotinas, revivê-las em um curto período de tempo e de forma inquieta, englobando novas “roupagens”.

3. A busca por perfeição: a pressão por criar uma persona online perfeita pode levar à obsessão com a imagem e à dificuldade de se conectar com os outros de forma autêntica. Aqui, vale refletirmos sobre como a Comunicação Corporativa tem olhado (ou não!) para essa simbiose à qual todos estamos expostos. Ou seja, de que forma uma organização tem dado espaço à cultura de falar sobre os próprios erros ou insucessos de uma maneira íntegra e educativa, com acolhimento às diversidades de pensamento e postura e uso de processos de escuta ativa que podem ajudar a reduzir a pressão sobre um ambiente em que tudo ainda precisa beirar a perfeição.

4. A distração constante: a massiva disponibilidade de tecnologia pode nos distrair das relações interpessoais e experiências reais que nos cercam, dificultando a construção de engajamento. Isso sem falar na falta de foco, concentração e capacidade de elencar prioridades. Nunca estivemos tão rodeados e solitários, mais individualistas. E o mundo (sobre o ESG) necessita cada vez mais do coletivismo.

Diante dessas reflexões, talvez comecemos a entender melhor a “ponta do iceberg”, ou o chamado “mal da desconfiança”.

Precisamos mergulhar fundo em tudo aquilo que tangencia as relações interpessoais para sermos estrategicamente indutores de diálogos e ambientes em que todos desejam estar presentes físico, mental e emocionalmente. Esse atitudinal continua sendo um pilar para construirmos relacionamentos de confiança, com legitimidade. E as redes atuam com eficiência nesse sentido há muito tempo, o pensamento conectivo, dentro e fora das empresas, no on e no offline. Mas isso é tema para um outro artigo aqui!

Este texto foi originalmente publicado no Blog Sinapse, do portal Aberje.

O texto acima foi produzido por um parceiro Dialog, tendo seus direitos reservados. A Dialog não se responsabiliza pelo conteúdo deste artigo, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.

Comentários

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Receba nossas novidades
no seu e-mail