No dia 3 de dezembro é comemorado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Nesse sentido, de que forma a Comunicação Interna pode atuar como ferramenta de inclusão? Esse é o tema que trazemos neste artigo.
Desde 1991, todas as empresas com 100 funcionários ou mais são obrigadas por lei a destinar uma porcentagem de vagas para pessoas com deficiência. Apesar da obrigatoriedade existir há mais de 30 anos, essa inclusão caminha a passos lentos para se tornar realidade.
O IBGE divulgou, em setembro deste ano, dados de 2019 relacionados ao mercado de trabalho para pessoas com deficiência. Os números mostraram que apenas 34,3% desses trabalhadores ocupavam postos formais de trabalho. Além disso, o levantamento também indicou uma diferença salarial entre os profissionais com e sem deficiência. Enquanto as pessoas com deficiência recebiam, em média, R$ 1.639,00 mensais, o rendimento médio mensal dos outros profissionais na mesma função era equivalente a R$ 2.619,00.
A pesquisa mostra como é desolador o cenário para os quase 20% de lares no Brasil que têm alguma pessoa com deficiência. Diante disso, é necessário dar condições para que esses profissionais trabalhem. Muitas vezes a empresa abre a vaga e contrata, mas as precárias condições de trabalho fazem com que o profissional apenas preencha a cota. Soma-se a isso o fato da empresa achar que está sendo inclusiva quando, na realidade, o que está fazendo não traz impacto algum para a inclusão das pessoas com deficiência.
Certa vez, um colega cego, consultor de acessibilidade, falou que uma empresa o convidou para testar uma nova funcionalidade de um aplicativo. Ao tomar conhecimento do que se tratava, ele disse que o que a empresa estava fazendo já era feito pelos smartphones de forma nativa, ou seja, o app não solucionava uma necessidade latente.
Isso significa que o importante é fazer coisas que, de fato, façam sentido para esse público. E a melhor maneira de saber isso é conhecendo cada um! É aqui que entra a Comunicação Interna como ferramenta de inclusão dentro da companhia.
A Comunicação Interna e a pessoa com deficiência
A Comunicação Interna tem como um dos objetivos reforçar os valores e a cultura da empresa. E, para que isso seja feito sem ruídos, é necessário que todo mundo entenda muito bem o que está sendo transmitido.
Para nos comunicarmos de maneira eficiente, precisamos ter em mente algumas coisas:
- Nem todas as deficiências são iguais. Na deficiência visual, por exemplo, existem pessoas que são totalmente cegas e outras que têm baixa visão. Dependendo do que for comunicar, você precisará de canais de comunicação diferentes para atingir cada público.
- Use as terminologias corretas: isso demonstra que a sua empresa se importa com esse público e respeita todas as pessoas.
- Trate as pessoas com deficiência da mesma forma que você trata os demais profissionais. Não infantilize a comunicação.
Vamos ver como podemos fazer da Comunicação Interna um meio de inclusão dentro das empresas?
A Comunicação Interna para pessoas com deficiência visual
Se a sua empresa tem profissionais com deficiência visual, identifique se são pessoas totalmente cegas ou com baixa visão. Se o profissional tiver baixa visão, use letras ampliadas no mural, por exemplo. No e-mail com imagem, faça a mesma coisa para que esse público seja incluído na comunicação. Além disso, é importante que as imagens tenham contraste com o texto, para que haja legibilidade. Um fundo branco com letras cinzas, por exemplo, irá prejudicar a leitura.
Já para profissionais totalmente cegos, certifique-se de que o software usado por eles (no computador ou celular) faz a leitura do conteúdo da imagem. Caso contrário, mande a comunicação em formato de texto.
A sua empresa usa rede social corporativa? Se sim, é fundamental descrever todas as imagens que você publicar (#pracegover). A mesma regra vale para o que for comunicado via WhatsApp. Em eventos, muitas vezes são oferecidos materiais impressos. Se for o caso, disponibilize também em Braille para que as pessoas cegas possam acompanhar.
A Comunicação Interna para pessoas com deficiência auditiva
As duas primeiras coisas que você precisa saber é que existe uma língua oficial da comunidade surda no Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), e que nem toda pessoa com deficiência auditiva é alfabetizada na Língua Portuguesa.
Por isso, o comunicado fixado ao mural ou enviado por e-mail pode não ser eficiente quando direcionado a esse público. O mesmo acontece se você utiliza muitos vídeos na rede social corporativa ou TV. Utilizar legenda pode não ser o ideal. Nesse caso, opte por um intérprete de Libras.
Procure os profissionais com deficiência auditiva da sua empresa e pergunte qual a melhor maneira de se comunicar com eles. Fazer com que as pessoas com deficiência auditiva também participem dos eventos corporativos é uma parte importante do processo de inclusão. Nesse sentido, o intérprete de Libras é uma presença indispensável.
Para uma melhor comunicação entre as pessoas ouvintes e surdas, existem diversos aplicativos como o ProDeaf Móvel, o Hand Talk e o Uni LIBRAS. Além disso, a sua empresa pode oferecer curso de Libras para as pessoas ouvintes.
A Comunicação Interna para pessoas com deficiência física
A Comunicação Interna também precisa ter um olhar atento para as pessoas com deficiência física dentro da empresa. Observe se os profissionais cadeirantes conseguem acessar o mural da empresa, caso contrário, fixe murais específicos para eles.
Nos eventos internos, se preocupe com a acessibilidade. É muito importante que eles possam participar das ações sem nenhum tipo de constrangimento.
Não pare por aqui
Existe um lema adotado pelas pessoas com deficiência que é “nada sobre nós, sem nós”, ou seja, se vai fazer alguma coisa para esse público, você deve incluí-los na discussão!
Além desses exemplos acima, existem muitos profissionais com outras deficiências no mercado de trabalho. Então, não deixe de ouvi-los, respeite a individualidade de cada um e pergunte sempre o que preferem.
Faça da inclusão uma rotina diária dentro da Comunicação Interna da empresa. Realize palestras e eventos de integração para que as pessoas sem deficiência aprendam a lidar com as pessoas com deficiência, diminuindo assim a barreira entre elas.
E, para finalizar, queria trazer um case que mostra como a Comunicação Interna pode auxiliar na mudança de cultura de uma empresa.
Quando eu trabalhava na comunicação de um órgão público voltado para o atendimento de pessoas com deficiência, existiam encontros com servidores (chamados de líderes) dos outros órgãos para entender como o serviço de uma Secretaria poderia contribuir para o serviço de outra Secretaria.
Naquela vez, a Secretaria que eu trabalhava seria a anfitriã. Então, a gente pensou em algo que pudesse mudar a percepção deles em relação às pessoas com deficiência. Para que esses servidores tivessem a noção de como uma pessoa surda se sente quando procura um atendimento e não tem intérprete para ajudá-la, fizemos o contrário. Colocamos pessoas conversando em Libras na recepção.
Assim, eles chegavam no evento e não sabiam se comunicar. Logo após, explicávamos o que estava acontecendo. Mas foi um choque de realidade! A ideia era sensibilizá-los sobre a importância da presença de intérpretes nos locais de atendimento público.
Também pedimos para que eles vendassem os olhos, simulando ter uma deficiência visual, e fossem conduzidos por uma outra pessoa. No final do evento, todos relataram que foram impactados pelas dinâmicas propostas e que, sem dúvida, a percepção deles mudou.
E este também é o papel da Comunicação Interna. Além de produzir textos, vídeos e eventos, precisamos contribuir para que as pessoas se voltem para uma nova realidade, que é a da inclusão!
O texto acima foi produzido por um parceiro Dialog, tendo seus direitos reservados. A Dialog não se responsabiliza pelo conteúdo deste artigo, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.
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