Nos últimos anos, a saúde mental ganhou protagonismo nas discussões corporativas, e com razão: a pandemia de Covid-19 teve impactos profundos no aspecto psicológico da população, e tais consequências precisaram ser abordadas coletivamente para que pudéssemos sair daquele período, se não melhores, ao menos como estávamos antes de 2020. Mas há outro pilar igualmente essencial para o bem-estar das pessoas colaboradoras, que não pode ser deixado de lado: a saúde física.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), grande parte da população adulta não atinge o nível mínimo de atividade física recomendado, que é de 150 minutos de exercícios moderados por semana. O IBGE confirma essa tendência no Brasil: cerca de 40% da população brasileira é considerada insuficientemente ativa, e a falta de movimento está diretamente relacionada ao aumento de doenças crônicas, à queda da qualidade de vida e, consequentemente, do rendimento no trabalho.
Nesse cenário, a Comunicação Interna pode ser uma grande aliada, não para empurrar a lógica do “fitness corporativo”, mas para estimular uma cultura de movimento leve, prazeroso e possível dentro da rotina de cada pessoa. Pois pequenas mudanças de hábito, quando incentivadas com consistência, podem dar um bem-vindo ‘up’ na saúde e na experiência no trabalho também. E é de se surpreender a quantidade de pessoas que começam a se exercitar de leve e acabam virando experts em cuidar de si mesmas, influenciando outras positivamente.
Por que falar de saúde física agora?
A discussão sobre saúde física dentro das empresas tem importância tanto para a qualidade de vida, quanto para a “saúde” do próprio mercado de trabalho. Dados do Ministério da Saúde (Vigitel 2023) apontam que o sedentarismo é um dos principais fatores de risco para doenças como hipertensão, diabetes e obesidade – condições que estão entre as que mais geram afastamentos no ambiente de trabalho.
Além disso, um estudo publicado na revista científica Lancet em 2016 indica que a inatividade física custa à economia mundial cerca de US$ 67 bilhões por ano em gastos com saúde pública e perda de produtividade. Em escala nacional, isso se reflete em aumento de absenteísmo e do presenteísmo, que significa presença sem engajamento e com menos energia disponível para as tarefas cotidianas.
Falar sobre saúde física é, portanto, falar de bem-estar integral e de sustentabilidade organizacional. E nesse campo, a Comunicação Interna tem um papel único: pode simplificar informações técnicas e transformá-las em mensagens próximas, que façam sentido no dia a dia das pessoas, criar campanhas que inspirem mudanças reais e que ajudem a derrubar o estigma de que cuidar do corpo significa seguir padrões estéticos ou se tornar “rato(a) de academia”.
O papel da Comunicação Interna
Mais do que comunicar campanhas de saúde de forma protocolar, a Comunicação Interna tem a capacidade de criar conexões verdadeiras com as pessoas colaboradoras, construindo narrativas inspiradoras e estimulando pequenas mudanças de hábito sem que soem forçadas.
Um caminho é trabalhar com o conceito de comunidade em movimento: mostrar que cada passo, alongamento ou pequena atividade faz diferença, sobretudo quando compartilhada. É nesse ponto que a CI pode se beneficiar do uso de apps e ferramentas digitais de “competição saudável”, que criam rankings, metas flexíveis e espaços de interação para que as pessoas se incentivem mutuamente. O diferencial está em apresentar esses recursos não como disputa por desempenho, mas como uma forma divertida de gerar apoio coletivo, estimulando conversas e transformando o cuidado com o corpo em parte da cultura organizacional.
Além dos aplicativos, outros formatos também podem ser explorados: campanhas com histórias reais de colaboradores que encontraram formas simples de se manter ativos; pausas ativas guiadas por vídeos curtos na intranet ou nos grupos de comunicação; ou ainda desafios leves como “subir escadas por uma semana” ou “caminhar dez minutos após o almoço”, sempre reforçando a ideia inclusiva de que cada pessoa tem seu ritmo.
Parcerias estratégicas, com descontos em academias, convênios locais e mapas de ciclovias são iniciativas de baixo custo que podem ser comunicadas de forma criativa, assim como as datas simbólicas podem receber um novo olhar – aproveitar o Dia Mundial da Saúde ou a Semana Nacional de Trânsito para propor experiências de movimento alternativas, fugindo do calendário corporativo engessado.
Ao assumir esse papel, a Comunicação Interna contribui não apenas para a disseminação de informações, mas para a criação de um ambiente em que o cuidado é abordado de forma coletiva. E quando o incentivo vem da empresa em um tom humano, com espaço para trocas e celebrações, a chance de adesão cresce muito mais do que quando a abordagem é meramente institucional.
Como medir impacto sem reduzir a números de academia
Um dos riscos de campanhas de incentivo à saúde física é transformar o movimento em métrica de performance individual. Isso pode gerar pressão, constrangimento ou até exclusão. A Comunicação Interna, por outro lado, tem a oportunidade de mostrar que o impacto vai muito além de quilômetros percorridos ou calorias queimadas, por meio de:
- Pesquisas pulse de percepção para medir se colaboradores se sentem mais estimulados.
- Engajamento em ações voluntárias como adesão a grupos de caminhada ou desafios leves.
- Feedback espontâneo captado em redes internas ou rodas de conversa.
- Indicadores de clima e bem-estar que relacionam energia e motivação ao impacto cultural da campanha.
Medir o impacto, portanto, significa avaliar se a cultura organizacional está se abrindo para o cuidado coletivo e se cada pessoa se sente encorajada a encontrar sua própria forma de movimento.
Comunicação Interna que propõe e não impõe
Assim, falar de saúde física no ambiente de trabalho é, acima de tudo, falar de uma qualidade de vida possível. E a Comunicação Interna tem o poder de transformar esse tema em algo humano e alcançável. Em vez de pressionar colaboradores a atingirem metas difíceis ou seguirem padrões estéticos, a CI pode convidar: a mover-se mais, cada um ao seu jeito, e a reconhecer que pequenas atitudes fazem mais diferença do que se convenciona pensar.
Quando a empresa mostra que valoriza esse empenho com informação confiável, promovendo experiências leves e criando oportunidades de apoio coletivo, fortalece não apenas o bem-estar individual, mas também a cultura organizacional como um todo, extrapolando isso para toda a sociedade.
O movimento não precisa ser sinônimo de obrigação, mas de prazer, vitalidade e equilíbrio. Ao comunicar isso com empatia e consistência, a Comunicação Interna se torna um catalisador de uma cultura de bem-estar sustentável, que não acaba com o fim de uma campanha, mas segue viva no cotidiano das pessoas.

Por Allan Araújo, líder de conteúdo na Dale.
O texto acima foi produzido por um parceiro Dialog, tendo seus direitos reservados. A Dialog não se responsabiliza pelo conteúdo deste artigo, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.




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